Tudo era apenas manchas, borrões disformes, coloridos. Não ligava para os brinquedos, gostava mesmo de ficar olhando o que para os outros era o nada. Simpatizava com as manchas cor de rosa, temia as rochas e diante das vermelhas se confundia: ora pareciam assustadoras, ora passavam uma certa alegria.
Mas, entre todos os borrões de todas as cores, nenhum era tão bonito como aquele. Tão amarelo. Amarelo que se espalhava por todo o quarto nas manhãs de sol e que enchia seu olhos de luz antes de adormecer.
Ninguém entendia seu mundo de cores, sem formas. Um dia, enquanto passava os dedos pelos cabelos de sua mãe, disse insegura com palavras que a pouco aprendera a falar:
“Mãe, como você é amarelo”.
Já tinha aprendido algumas palavras, mas nenhuma parecia ser tão apropriada como aquela: amarelo!
“Amarelo, filha?” - A mãe perguntou curiosa.
Sem saber o que responder, ficou calada, ali, olhando o quanto tudo aquilo era, sim, amarelo.
Um dia teve que acordar mais cedo, entrou em uma sala fria com pessoas sorridentes. Uma delas pingou um líquido gelado que fez seus olhos arderem. Os borrões ficaram mais claros, até as cores eram difíceis de ver.
Sentado pesadamente em uma cadeira, um homem gordo e com roupa branca perguntou: “Ela já sabe as letrinhas?”.
A mãe balançou a cabeça negativamente.
“Letrinhas? O que é isso?” - ela pensou curiosa enquanto o homem de branco apontava uma luz bem pequena e incômoda para seu olho e o analisava bem de pertinho. Ele logo disse: “É, acho que óculos vai ser a única solução.”
Óculos? Não, essa palavra não fazia parte da sua listinha de palavras conhecidas. ÓCULOS? Não resistiu e perguntou, ali mesmo, naquele ambiente de adultos : “É amarelo?”
Ninguém deu atenção, conversaram sobre coisas chatas e falaram tantas outras palavras que ela nunca tinha escutado. Ela nem ligou, só pensava em uma: óculos.
Saiu ainda com as pupilas dilatadas, foi a uma loja. Lá colocaram em seu rosto um objeto estranho: dois pedaços de vidro presos por um metal que pesava em seu nariz e ia até o fim de suas orelhas.
“Muito chato esse tal de óculos” - pensou. Ele nem era amarelo!
Alguns dias depois, ele reapareceu, embrulhado em pano delicado e dentro de uma caixinha. Ao colocá-lo no rosto, dessa vez, tudo foi diferente. As manchas sumiram! Tomaram forma sólida, definível. Ela viu.
Viu que na enorme cortina amarela de seu quarto havia pequenas borboletas azuis e ficou horas detectado-as em meio à imensidão de pano pendurado na janela. Já sabia que as cores eram lindas - e preferia o amarelo - mas, ao procurar as borboletas azuis percebeu que havia muito mais coisas lindas para se ver.
Ela viu. Descobriu o mundo das outras pessoas, mas não deixou de lado o seu. Continuou, de óculos, achando aquilo tudo tão amarelo....
8 comentários:
Adorei. Ficou muito bom!
É como eu disse: prodígio é você, que tem 17.
Eu acho que a Gabi mente a idade. Sério mesmo.
Nem li, não tenho paciência para ler coisas de uma boboca. :p
Escreve mais, por favor. :~
uma gracinha..
parece o miguilim
Blog de um post só? me amarro ahauhuha
pq não escreve mais? xP
é a DIBRIELLA AMARELLA ehhehee
minha autora preferida qnd poderei emocionar-me mais uma vez com seus textos?
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